sábado, 6 de junho de 2009

VITORINO NEMÉSIO (1901-1978)

Escritor e professor universitário português natural da Ilha Terceira (Açores). Foi empregado de escritório em Lisboa e, em 1921, tomou-se redactor de A Pátria. Em 1922, sendo revisor da Imprensa da Universidade de Coimbra, inscreveu-se no curso de direito, passando depois à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde viria a licenciar-se em filologia românica em 1931, doutorando-se três anos mais tarde.
Foi professor universitário em Montpellier (1935-1937), em Bruxelas (1937-1939), na Universidade da Baia (1958), na Universidade Federal do Ceará (1965) e na Faculdade de Letras de 1941 a 1971, instituição esta que dirigiu de 1957 a 1959. Militante republicano académico, em Coimbra, fundou, com Afonso Duarte, a revista Tríptico. Colaborou na Presença e lançou a Revista de Portugal, que proporcionou um amplo reconhecimento do movimento modernista e de outras correntes de vanguarda, proporcionando a divulgação das tendências das literaturas portuguesa a brasileira da época. Foi autor e apresentador do programa televisivo Se bem me lembro, que o popularizou, a dirigiu o jornal O Dia entre 1975 e 1976.
Nemésio foi ficcionista, poeta, cronista, ensaísta, biógrafo a ainda historiador. Levou a cabo, na sua obra, uma transformação das tendências da Presença (que de certa forma precedeu) que garantiu a perenidade dos seus textos. Fortemente marcado pelas suas raízes insulares, a vida açoriana e as recordações da sua infância percorrem a obra do escritor, numa espécie de apelo, revelado pela ternura da sua inspiração popular, pela presença das coisas simples e das gentes, e pela profunda humanidade face à existência e ao sofrimento da vida humana. Aliando uma vasta erudição a capacidade da intuir imagens da grande intensidade poética, foi dos grandes escritores portugueses do século XX, recebendo em 1966 O Prémio Nacional de Literatura a em 1973, O Prémio Montaigne.






A concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.

E telhadosa de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.

A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.

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