Escritor português, natural de Lisboa, naturalizado brasileiro em 1963. Cadete da Escola Naval, foi demitido da Armada em 1938. Licenciou-se em engenharia civil, trabalhando na Junta Autónoma de Estradas entre 1948 e 1959. Neste último ano, exilou-se voluntariamente no Brasil, tendo sido convidado para exercer actividade docente na área da Literatura, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Assis (Estado de São Paulo). Em 1965 seguiu, também como professor, para a Universidade do Wisconsin (EUA), transferindo-se cinco anos mais tarde para a Universidade da Califórnia, onde velo a chefiar o departamento de espanhol e português e o programa interdepartamental de literatura comparada.
Entretanto, vinha desenvolvendo, desde finais dos anos 30, ampla actividade de critica de arte, tendo colaborado, entre outras, nas revistas Presença, Cadernos de Poesia (que dirigiu em 1951 e em 1952 - 1953), Portucale, Seara Nova e Vértice, bem corno em suplementos literários de vários jornais. Foi também tradutor, devendo-se-lhe a divulgação, em Portugal, de poetas surrealistas e de grandes nomes da cultura inglesa. Dedicou inúmeros estudos, não só a estes, como sobretudo a autores portugueses, com destaque para Fernando Pessoa e, acima de tudo, Camões (A Poesia de Camões, Ensaio de revelação da Dialéctica Camoniana, 1951; Uma Canção de Camões, 1956; Camões e Os Maneiristas, 1961; A Estrutura de Os Lusíadas, 1971).
Jorge de Sena foi ainda poeta, dramaturgo, ficcionista e historiador da cultura. Não se filiando em nenhuma escola literária, foi influenciado por varias correntes (e notoriamente pelo surrealismo, >sobretudo em aspectos técnicos, numa tentativa de superar as tendências da época que passou por varias formas de experimentalismo. No entanto, a estes aspectos modernos da sua poesia aliou recursos da tradição medieval e renascentista, tornando a sua obra, simultaneamente, clássica e revolucionaria. Num lirismo depurado, levou muitas vezes a cabo urna critica mordaz e irónica da realidade, aqui e ali de forma provocadora ou dolorosa. Entre os seus temas maiores contam-se os da morte, do amor e da experiência erótica, da relação entre o Homem e Deus, ou os deuses, da própria criação estética pela linguagem e, finalmente, de Portugal, nos seus mitos culturais, satirizando frequentemente aspectos provincianos ou saudosistas do entendimento do país e do seu povo no mundo.
É um dos grandes vultos da poesia e do ensaísmo português da segunda metade do século XX.
Beijo
Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.
sábado, 6 de junho de 2009
JORGE DE SENA (1919-1978
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