Poeta e político português (Águeda, 12-5- 1936). Data de 1965 a publicação do seu primeiro volume poético, Praça da Canção. Esta colectânea evidencia, desde o próprio título, uma imagem do poeta como cidadão corresponsabilizado nos destinos da comunidade e um entendimento da poesia como canto apelativo, grito de protesto lançado na ágora. Poeta maior da literatura de intervenção dos anos 60, Manuel Alegre carrega na sua poesia as angústias e os anseios de uma geração profundamente marcada pela ditadura e pela guerra colonial. Os seus versos são a crónica de um tempo histórico comum e a expressão da saudade de um espaço, que é simultaneamente o topos português lembrado pelo “lusíada exilado” e a utopia de um Portugal que há - de ser. São também o apelo a um percurso colectivo de regresso (que a imagem da raiz metaforiza e que um título como Chegar Aqui indicia), de reencontro com a pátria verdadeira, depois da passada aventura histórica de partida.
Ser ou não ser
Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.
Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.
Até quando? Até quando?
Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.
sábado, 6 de junho de 2009
MANUEL ALEGRE (1936)
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