sábado, 6 de junho de 2009

CAMILO de Almeida PESSANHA (1867-1926)

Poeta português, natural de Coimbra, formou-se em direito em 1891. Três anos mais tarde, seguiu para Macau, vindo a ser professor de filosofia no Liceu local. Em 1900, ocupou o lugar de conservador do registo predial da cidade, tendo estado de novo em Portugal entre 1905 e 1909 e 1915 e 1916.
De vida social apagada e alheio a tentativas de publicação, oferecia os poemas que ia escrevendo, chegando alguns a surgir em revistas da época. Deve-se a João de Castro Ósorio e a Ana de Castro Ósorio a publicação do volume Clepsidra (1920), que reúne poemas de Pessanha, muitos dos quais ditados de memória pelo poeta. Posteriormente, surgiram ainda composições inéditas.
Geralmente considerado o mais genuíno representante do simbolismo português, notabilizou-se sobretudo pela extrema qualidade rítmica e musical dos seus versos, que o aproxima de Verlaine. Cultivando uma forma meticulosa, de grande equilíbrio e rigor, afastou-se do tradicional lirismo romântico, do sentimentalismo e confessionalismo, por vezes torrenciais, de muita poesia portuguesa. Antes, a sua poesia reflecte uma calma e melancolia resignadas, por vezes pessimismo, aliados ao sentimento do fluir do tempo e da inutilidade dos esforços humanos. Estas vivências, no entanto, são sempre ténues, encontrando a sua expressão em imagens e símbolos subtis e fugidios, sensações de ânsia e de uma certa nostalgia saudosa (de fundo português), visões sugestivas desses estados de alma.
Embora tardiamente publicado e tendo uma obra escassa, Camilo Pessanha exerceu grande influencia sobre os poetas do primeiro modernismo português, e mesmo posteriores. A par das composições líricas, Camilo Pessanha escreveu estudos sobre literatura e cultura chinesas, reunidos no volume China (1944), que inclui ainda a tradução de oito elegias chinesas.






Estátua


Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor – frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão ! para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado ...

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

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