Poeta popular, quase analfabeto, tendo sido pastor, servente de pedreiro e cauteleiro. Nesta última profissão, de terra em terra, de feira em feira, encontrou o ambiente inspirativo para desenvolver os dotes invulgares de fazedor de quadras de sabor aforismático e profundamente popular, a traduzirem forte “capacidade de expressão sintética de conceitos com conteúdo de pensamento moral”. “Que esperança será aquela/Que sinto desde criança/Que ainda dou restos dela/Aos que já não têm esperança?!” O tom dolorido, emanando de uma certa visão amarga da existência, com ironia por vezes mordente, traz-nos o eco da vida difícil que ao poeta foi dado viver. “O Destino, por ser forte,/esta má sorte me deu/de ter de vender a sorte/ aos mais felizes do que eu.”
Os títulos que compõem a obra de António Aleixo têm sido reeditados e desde 1969 aparecem reunidos em Este Livro que Vos Deixo …, a que posteriormente (1984) se juntou um volume de Inéditos.
Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!
Ser doido-alegre, que maior ventura!
Morrer vivendo p'ra além da verdade.
É tão feliz quem goza tal loucura
Que nem na morte crê, que felicidade!
Encara, rindo, a vida que o tortura,
Sem ver na esmola, a falsa caridade,
Que bem no fundo é só vaidade pura,
Se acaso houver pureza na vaidade.
Já que não tenho, tal como preciso,
A felicidade que esse doido tem
De ver no purgatório um paraíso...
Direi, ao contemplar o seu sorriso,
Ai quem me dera ser doido também
P'ra suportar melhor quem tem juízo.
sábado, 6 de junho de 2009
ANTÓNIO ALEIXO (1899-1949)
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