Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa em 1888, onde morreu em 1935.
Tendo-se a mãe do poeta instalado na África do Sul, em virtude de um segundo casamento, aí fez os seus estudos, frequentando a Universidade do Cabo. De regresso a Lisboa, matriculou-se no curso superior de Letras, que abandonou para trabalhar como correspondente comercial.
Começando por perfilhar o ideário saudosista, dele se afasta para empreender um caminho inovador cuja primeira expressão é o paulismo, termo derivado das poesias pauis que publicou na revista A Renascença (1914). No ano seguinte, a eclosão do modernismo é polarizada na revista Orpheu, de que Fernando Pessoa é um dos directores (…)
Postumamente, a sua obra, quase toda inédita, foi organizada por João Gaspar Simões e Luís de Montalvor (Obras Completas em cinco volumes), Freitas da Costa (Poemas Dramáticos,incluindo o drama estático O Marinheiro e fragmentos de um Fausto), Jorge Nemésio (Poetas Inéditos), Jorge de Sena (Páginas de Doutrina Estética) e, ultimamente, Georg Rudolf Lind e Jacinto Prado Coelho (Quadras Populares ao Gosto Popular).
Muito embora o enquadramento modernista tenha que ser considerado como estímulo da revolução poética desencadeada por Fernando Pessoa, o poeta é, antes, um integrador do tradicional e do novo, cuja fusão isola das efervescências características do modernismo, constituindo-se, assim, um fautor da específica modernidade portuguesa. Esta sua singularidade é, hoje, um facto reconhecido além fronteiras, onde o poeta é considerado um dos maiores do século.
A complexa profundidade da sua obra desdobra-se no jogo dos conhecidos heterónimos que o poeta chamou “um drama em gente”, no qual, para além de todas as especulações interpretativas, se deve tomar em conta a seguinte motivação: a sua organização mental, à qual qual não seria alheia uma disciplina de tipo iniciático, personificou nos heterónimos as fases de uma operação alquímica, a fim de obter a unidade, projectando, desta maneira, a pluridade psicológica, cuja engrenagem, posta em movimento, é a consciência de uma dialéctica que põe em causa a síntese.
Contemplo o que não Vejo
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro.
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é o que estou.
sábado, 6 de junho de 2009
FERNANDO António Nogueira PESSOA (1888 – 1935)
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