domingo, 7 de junho de 2009

SEBASTIÃO da GAMA (1924-1952)





A 10 de Abril de 1924, nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, concelho e distrito de Setúbal, Sebastião Artur Cardoso da Gama, filho mais novo de uma doméstica e de um comerciante. Poeta na vida e na obra.



Logo aos 14 anos é-lhe diagnosticada a tuberculose óssea que haveria de lhe custar a vida. A conselho do médico, muda-se com a mãe para a Serra da Arrábida, cenário de sonho que será o “primeiro amor” da sua poesia.
Para além da Arrábida, é o mar que encanta o jovem Sebas
tião, a quem a doença e o isolamento parecem não retirar alegria, vivacidade e facilidade de relacionamento com as pessoas. Como com os pescadores e lavradores, a quem admirava o linguajar. Admiração que lhe valeu a repreensão do arguente quando, defendendo a tese de mestrado com que se formou em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Sebastião da Gama utilizou termos próprios dos homens do mar e do campo, cuja companhia preferia à de doutores.





Terminados os estudos, Sebastião da Gama dá aulas na Escola Comercial e Industrial João Vaz, em Setúbal, durante um ano. Os alunos, apesar do curto período de convivência com o jovem professor, ficam profundamente marcados pela sua personalidade comunicativa, aberta ao diálogo e, claro, à poesia.

Colocado em Lisboa, na Escola Veiga Beirão, inicia em Diário o relato a sua experiência pedagógica e os métodos, inovadores para a época, que utilizava no contacto com os alunos.
A antiga Escola Técnica de Setúbal, onde foi professor, é hoje designada por Escola Secundária de Sebastião da Gama.



Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949).

Colocado em Lisboa, na Escola Veiga Beirão, inicia em 1949, “Diário” o relato a sua experiência pedagógica e os métodos, inovadores para a época, que utilizava no contacto com os alunos.
Literariamente,
não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos.
Começa a publicar em jornais (Gazeta do Sul) e revistas literárias (Brotéria, Távola Redonda), sob o pseudónimo Zé d´Anixa, alguns poemas.

Aos 21 anos converte-se ao catolicismo, crença da qual só a morte o arrastará.





Ao seu primeiro livro de versos Serra Mãe (1945) segue-se o Cabo da Boa Esperança (1948). Se no primeiro, Serra Mãe, é a Arrábida, a beleza da serra, a serenidade das suas noites, os caminhos trilhados à luz do dia ou pela noite fora, o tema central, no Cabo da Boa Esperança (1948) este tema alarga-se. É verdade que em Serra Mãe exprime uma inquietação religiosa profunda que o atormenta, ao longo da vida. Mas a alegria, a esperança, a juventude sentida como uma dádiva dominam o livro

O início da década de 50 parece promissor para o poeta: em 1951 casa com a amiga de adolescência e vizinha Joana Luísa, na Capela da Arrábida, e nesse mesmo ano publica o quarto volume de poesia, Campo Aberto.






No ano seguinte, no entanto, o seu estado de saúde, que sempre fora débil, agrava-se e Sebastião é internado em Lisboa. Sete meses após o casamento, e aos 27 anos de idade, o autor de Pequeno Poema morre a 7 de Fevereiro de 1952, vítima de uma meningite renal.

O poeta da Arrábida morreu jovem, mas teve tempo para dar voz à Serra, ao mar e aos homens que deles vivem.

Joana Luísa empenha-se, após a morte do marido, na publicação dos seus inéditos. É assim que, postumamente, são lançados Pelo Sonho é que Vamos, Diário, O Segredo é Amar e Itinerário Paralelo.

Em 1999, Vila Nogueira de Azeitão passou a acolher o museu onde se reúnem o espólio artístico e alguns objectos pessoais de um dos mais queridos filhos da terra.

Os volumes póstumos, Itinerário Paralelo, Pelo Sonho é que Vamos, não alteram a imagem que os volumes anteriores deixavam no leitor. O Diário, que resultou do seu estágio no Ensino Técnico, é um livro admirável em que o dia a dia de um professor nos é contado. Segredo da sua arte de ser professor as duas frases (interrogação e resposta): “Tens muito que fazer? Não. Tenho muito que amar”

Se o seu Diário de professor tivesse sido escrito em inglês ou francês, já teria corrido o mundo a mensagem pedagógica daquele professor apaixonado pela sua missão. As páginas do Diário respiram um frescor e uma espécie de lúcida candura e inculcam um método que impressiona o leitor

Três foram os livros de poesia publicados durante a sua curta vida, a saber: - Serra – Mãe (1945), Cabo da Boa Esperança (1947) e Campo Aberto (1951). Livros que de imediato o creditaram como um dos valores mais puros do nosso lirismo contemporâneo. Postumamente foram publicados; Pelo Sonho É Que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967), O Segredo É Amar (1969), que vieram confirmar as raras qualidades humanas e poéticas deste homem simples. Tão atento ao mundo exterior como aos movimentos da própria alma, imbuído de um cristianismo actuante em que mais se privilegiava a Graça do que prevalecia o Pecado, Sebastião Gama - que passou na Arrábida parte significativa da sua existência - deixaria algumas páginas inesquecíveis acerca dessa serra.

O poeta da Arrábida morreu jovem, mas teve tempo para dar voz à Serra, ao mar e aos homens que deles vivem.

Foi há 53 anos, mas a obra de Sebastião da Gama, autor de um Pequeno Poema, não está ainda esquecida. Foi, entretanto, instituído, com o seu nome, um Prémio Nacional de Poesia.














Pequeno poema

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...




Este é o poema do nascimento do sujeito poético, que retrata a luta que todos temos dentro de nos, aquela luta que nos faz questionarmo-nos; “o que será do mundo depois de eu morrer?”, “Como foi o mundo antes de eu nascer?” e “Se eu morresse agora será que seria lembrado?”.


Bem tentei organizar e desmontar o esquema rimático deste poema, mas simplesmente, este não tem uma estrutura rimática definida, é um poema que não se elege apenas por ter rimas, mas por ter um significado importante e marcante.

O poema é composto por um dois duetos, um terceto, uma quadra e um sexteto.











A uma rapariga

Somos assim aos dezassete.
Sabemos lá que a Vida é ruim!
A tudo amamos, tudo cremos.
Aos dezassete eu fui assim.

Depois, Acilda, os livros dizem,
dizem os velhos, dizem todos:
"A Vida é triste. a Vida leva,
a um e um, todos os sonhos."

Deixá-los lá falar os velhos,
deixá-los lá... A Vida é ruim?
Aos vinte e seis eu amo, eu creio.
Aos vinte e seis eu sou assim.





Sebastiao da gama ama Acilda, rapariga a quem ele escreveu este poema.

Aos dezassete ele pensa de igual maneira que aos vinte e seis sobre A Vida; no principio Sebastião da gama e Acilda pensam juntos “Somos assim aos dezassete” aos vinte e seis já não há referência a Acilda. “Aos vinte e seis eu sou assim.”

Como já vos foi dito anteriormente Sebastião da gama sofria de tuberculose óssea, doença

que lhe foi diagnosticada aos 14 anos, apesar de tudo isso Sebastião da gama nunca achou

a vida ruim (como se vê no poema)…

Podemos dizer que Sebastião da gama foi uma estrela que brilhou muito intensamente, mas as estrelas que mais brilham no céu são, infelizmente, aquelas que mais depressa se apagam…




Este poema é composto por três quadras.

Cada verso é composto por 8 sílabas métricas.











Pelo Sonho é que vamos

Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.





Sabem aquela sensação de quando acordamos no meio de um sonho bom e ficamos desiludidos, só nos apetece fechar os olhos com força e esperar que o sono e o sonho retomem o seu curso? Os sonhos são assim, fazem-nos querer muito agarrá-los e vivê-los, quer estejamos a dormir, quer estejamos acordados.

Os mestres dos sonhos, os poetas, apregoam a força dos sonhos alto e bom som, mas, regra geral, são tidos como loucos, mas não o são. Como dizia Florbela Espanca “ser poeta é ser mais alto / é ser maior do que os homens”, eles vêem mais além, são visionários.

Tem razão António Gedeão quando diz que…

“o sonho comanda a vida

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança”.


Este poema é composto por uma quadrilha menor e uma maior, e por mais dois versos em separado.

O número de sílabas métricas varia entre as 6 e as 9.

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